Abril 18, 2021

Retinopatia Diabética

A retinopatia diabética é uma doença dos pequenos vasos da retina que ocorre mais frequentemente em diabéticos do tipo 1 após a adolescência (início em jovens insulinodependentes) e em diabéticos do tipo 2 após os primeiros dez anos de duração da diabetes (início em indivíduos após a 5ª década de vida, geralmente obesos). Esta doença de pequenos vasos da retina pode ser acompanhada por doença dos pequenos vasos do rim, do ouvido, do cérebro, do coração ou dos membros inferiores.

O melhor parâmetro para um diabético saber se está bem controlado é o valor da hemoglobina A1c (HbA1c), que dá a média do controlo metabólico nos últimos 3 meses. Com um valor igual ou inferior a 7%, o diabético corre um risco mínimo de desenvolver retinopatia ou complicacões graves da retinopatia. A maioria dos diabéticos não necessitam de um rastreio anual. O rastreio em diabéticos do Tipo 1, que são jovens insulinodependentes e possuem uma forma mais ameaçadora de retinopatia deve ser efetuada após a puberdade, de 3 a 5 anos após o diagnóstico. Se não existir retinopatia, o rastreio pode ser efetuado a intervalos de 2 anos e quando se desencadear retinopatia, o rastreio deve ser anual.
O rastreio em diabéticos do Tipo 2, que se caraterizam por uma idade mais tardia de início da diabetes, geralmente após os 40 anos, deve ser efetuado logo após o diagnóstico, porque muitas vezes não é possível de determinar com exatidão há quanto tempo a pessoa já é diabética. Se não existir retinopatia, o rastreio pode ser efetuado a intervalos de 2 anos, embora alguns autores admitam intervalos de 3 ou 4 anos, após dois rastreios consecutivos sem retinopatia. Quando se desencadear retinopatia, o intervalo de rastreio deve ser efetuado a cada ano ou no máximo 2 anos em caso de retinopatia leve. Em geral, apenas 1 em cada 27 diabéticos fotografados necessitam de tratamento para complicações da retinopatia.
O controlo da diabetes depende de um triângulo, envolvendo a alimentação (dieta), o exercício e o tratamento (insulina ou anti-diabéticos orais). Um incremento na dieta tem que ser contrabalançado por um incremento no exercício ou no tratamento da diabetes. Nos diabéticos do tipo 1, o ajuste correto da insulina com a dieta e o exercício é primordial. Nos diabéticos tipo 2 é essencial um estrito controlo do peso.

Uma vez surgida a retinopatia, ela geralmente progride, embora o ritmo de progressão seja superior em diabéticos do tipo 1; e quando o controlo metabólico é mau nos tipo 1 e tipo 2. Um diabético que controle bem a HbA1c através da disciplina no que come e na prática de exercício, pode ter uma vida praticamente normal. Em contrapartida, a negligência ou a negação podem conduzir à cegueira, à impotência masculina, à necessidade de diálise três vezes por semana, à hipoacúsia (surdez), a enfarte do miocárdio, à amputação de dedos ou do membro inferior e à perda de memória. Por outro lado, é comum um diabético do tipo 2 entrar pelo seu pé nas consultas dos primeiros anos, seguindo-se o uso de canadianas e de cadeiras de rodas nas consultas posteriores, devido ao colapso dos joelhos perante o excesso de peso.

As duas complicações mais comuns da retinopatia diabética são o edema macular diabético e a retinopatia diabética proliferativa, que podem coincidir. No edema macular, a zona da retina central que usamos para a visão discriminativa (a mácula) encontra-se espessada e mais impermeável à luz, necessária para vermos o mundo exterior. Na retinopatia proliferativa, a falta de oxigénio na retina origina o desenvolvimento de vasos anormais que perdem líquido e sangue, podendo romper e originar grandes hemorragias dentro do olho que originam a perda súbita da visão. O edema macular é tratado com injeções no olho (intra-vítreas) de fármacos que são sempre múltiplas. O correto controlo metabólico é essencial para que o edema macular não volte a ocorrer (recaída). Por outro lado, a retinopatia diabética proliferativa, que é oito vezes mais frequente no tipo 1 do que no tipo 2, necessita de injeções intra-vítreas, de panfotocoagulação por laser e, muitas vezes, de cirurgia (vitrectomia). Mesmo com todos estes recursos, nos casos mais graves, a cegueira pode ser inevitável.

Por António Campos, MD PhD.