Junho 14, 2022

Oclusões venosas da retina / Tromboses das veias da retina

As oclusões venosas da retina, ou tromboses das veias da retina, são a segunda doença vascular mais comum da retina, logo após a retinopatia diabética.

Esta doença vascular oclusiva apresenta duas formas. A oclusão da veia central, em geral acompanha-se de baixa súbita de visão e perda da visão periférica, que pode ser grave e irrecuperável em alguns casos. A oclusão de um ramo da veia central da retina, em geral menos grave, acompanha-se em muitos casos de perda menos severa da visão e perda de visão no campo correspondente (mais frequentemente o campo inferior da visão, essencial para caminhar e para a leitura). Infelizmente, alguns casos de oclusão de ramo são graves e apresentam-se com grave perda da visão.

A idade e a hipertensão arterial são os principais fatores de risco. Embora 51% das pessoas que apresentam esta doença tenham mais de 65 anos, nenhuma idade está imune; de facto, 16% das oclusões da veia central da retina acontecem em pessoas com menos de 45 anos.

A causa de perda de visão pode ser de dois tipos: o edema (acumulação de líquido) na região central da retina, a mácula, responsável pela visão descriminativa, e a morte celular por falta de oxigénio (isquemia) da retina mais periférica, responsável pela visão mais periférica. Nalguns casos, felizmente pouco frequentes, a morte celular maciça das células nervosas ocorre na zona mais central, originando a perda permanente e grave da visão (cegueira legal). Do ponto de vista legal, quer a avaliação da visão central quer da visão de campo, são requeridas para a renovação da carta de condução e para a obtenção de incapacidade para o trabalho.

A base do tratamento destas doenças, outrora devastadoras, consiste em injeções no olho (intra-vítreas) de medicamentos. Deve ter-se consciência que uma vez presentes, estas doenças nunca mais desaparecem, portando-se como doenças crónicas, logo necessitanto de tratamento periódico crónico. Na oclusão da veia central é de esperar uma necessidade de 10 injeções no primeiro ano, decrescendo progressivamente para 6 injeções no quarto ano até 4 injeções no 8º ano após a trombose. Nas oclusões de ramo é de esperar um tratamento com pelo menos 7 injeções no primeiro ano. Num pequeno número de casos, a visão recupera totalmente sem necessidade de tratamento.

A resposta ao tratamento depende da prontidão. Quanto mais rápido o doente der conta da perda de visão e recorrer ao médico, tanto mais provável é a recuperação de uma boa acuidade visual e visão de campo, após instituído o tratamento. Como temos dois olhos, a perda de visão num deles pode passar despercebida durante um tempo relativamente longo, pelo que é importante estarmos alerta para esse facto. Durante o tratamento, sobretudo quando se começam a espaçar as injeções, pode haver recaídas. As recaídas apresentam-se com a perceção de que as linhas de um papel quadriculadao (caderno de matemática) se encurvam, a que se segue a perda de visão. É importante recorrer imediatamente à urgência do hospital em que se é tratado, uma vez que o atraso no tratamento e o número de recaídas podem implicar a perda irrecuperável de uma percentagem da visão.

Alguns casos mais graves de oclusão da veia central da retina e, mais raramente, de um dos seus ramos, podem necessitar de cirurgia da retina ou de laser ou crioterapia (tratamento com sonda de frio) da retina periférica, geralmente vários meses ou anos após o diagnóstico, mas deve ter-se presente que a cirurgia apenas trata as complicações mais graves (crescimento de vasos anormais e membranas na retina) e não é, de forma nenhuma, a base do tratamento.

A melhor forma de prevenir estas doenças é o controlo da tensão arterial (importante a redução da utilização do sal na comida), do peso e do colesterol. O exercício físico é um importante auxílio. Uma vez ocorrida a doença, a melhor forma de manter a visão estável é não faltar às injeções agendadas pelo oftalmologista e recorrer ao hospital logo que tenha uma recaída, como descrito acima.

São raros os casos que perdem a visão de condução ou de leitura e muito raros os que evoluem para cegueira legal ou glaucoma, se forem cumpridas estas orientações.

 

Por António Campos, MD PhD.