Carlos Neves
Grupo Português de Retina e Vítreo
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37603408/
Serve este artigo para reforçar a necessidade de serem criados, em Portugal, conceitos concretos, mensuráveis, apoiados na literatura de referência, sobre os tempos admissíveis para cirurgia de descolamento de retina, assim como o conceito de macula on-off. Esta avaliação é baseada em 1675 casos, do Primary Retinal Detachment Outcomes (PRO) study database, em linha com a avaliação da British database, Yorston et al, com 2074 casos.
“The study by Zeeshan Haq and colleagues investigates the impact of surgical timing on visual acuity outcomes in patients with rhegmatogenous retinal detachment (RD), based on their preoperative foveal status. They classified cases into three groups: fovea-on, fovea-split, and fovea-off. The study found that the timing of surgery did not significantly affect the final postoperative visual acuity in the fovea-on and fovea-split groups. However, in the fovea-off group, delaying surgery for two or more days resulted in significantly worse visual outcomes compared to surgeries performed within one day.
The study utilized data from the Primary Retinal Detachment Outcomes (PRO) study database and included a total of 1,675 cases. The findings emphasized that fovea-on and fovea-split RDs have comparable visual outcomes, while fovea-off RDs have worse outcomes that further decline with delayed surgery. The study suggests that while fovea-on RDs may not require emergent intervention, fovea-off RDs could benefit from earlier surgical repair. This study challenges traditional paradigms regarding the urgency of RD surgery based on macular involvement and advocates for a classification scheme based on the foveal status due to its implications for management and visual prognosis. The results are important for informing surgical timing decisions to maximize visual outcomes in RD patients.”
O estudo de Zeeshan Haq e colegas investiga o impacto do momento cirúrgico nos resultados da acuidade visual em pacientes com descolamento de retina regmatogénico (RD), com base no seu estado foveal pré-operatório. Eles classificaram os casos em três grupos: fovea-on, fovea-split e fovea-off. O estudo provou que o momento da cirurgia não afetou significativamente a acuidade visual pós-operatória final nos grupos fovea-on e fovea-split. No entanto, no grupo fovea-off, adiar a cirurgia por dois ou mais dias, resultou em resultados visuais significativamente piores em comparação com cirurgias realizadas dentro de um dia.
O estudo utilizou dados da base do estudo Primary Retinal Detachment Outcomes (PRO) e incluiu um total de 1.675 casos. Os resultados enfatizaram que RDs fovea-on e fovea-split têm resultados visuais comparáveis, enquanto RDs fovea-off têm piores resultados que declinam ainda mais com a cirurgia atrasada. O estudo sugere que, enquanto RDs fovea-on podem não requerer intervenção emergente, RDs fovea-off poderiam beneficiar de uma cirurgia mais precoce.
Este estudo desafia os paradigmas tradicionais quanto à urgência da cirurgia de RD com base no envolvimento macular e defende um esquema de classificação baseado no estado foveal devido às suas implicações para a gestão e prognóstico visual. Os resultados do estudo são importantes para informar decisões de momento cirúrgico, para maximizar resultados visuais em pacientes com RD.
Ricardo Parreira
Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo
Dispomos hoje em dia de uma variedade de tratamentos para reduzir a progressão da miopia. E como medimos a sua eficácia? Em publicações anteriores Kaymak demonstrou a importância do comprimento axial. Sabemos que a taxa de crescimento anual vai diminuindo com a idade. Neste estudo, a taxa de crescimento anual é comparada com uma base de dados de olhos que se tornaram emétropes (ajustada à idade). Desta forma, os autores identificam os olhos com um crescimento acima do dito fisiológico, nos quais sugerem instituir ou escalar o tratamento. Para este efeito é também fornecida uma versão online do sistema usado pelos autores (https://myopia-solutions.com).
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/joa.14009
Neste artigo o autor faz uma revisão da anatomia orbitária e da cinemática ocular, à luz de conceitos que a investigação foi esclarecendo ao longo dos anos. É analisada a importância das pulleys e do arco de contacto na determinação efetiva da força de rotação. Estes conceitos têm grande importância no planeamento e na compreensão das consequências da cirurgia de estrabismo.
Nuno Alves
Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia
João Feijão
Grupo Português de Cirurgia Implanto-Refrativa
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30882538/
Este artigo revê as várias etapas da evolução da técnica de CXL da córnea. Salienta a importância do oxigénio e das reações fotoquímicas associadas que ditam o sucesso ou insucesso desta técnica, e por consequência, o impacto dessas conclusões na decisão sobre o melhor protocolo terapêutico.
Lígia Ribeiro
Grupo Português de Neuroftalmologia
‘Time is vision’
Foi publicada na revista Ophthalmology uma análise retrospetiva de casos de nevrite ótica associada a anticorpos contra a glicoproteína da mielina dos oligodendrócitos (MOG-ON), com o objetivo de definir a proporção de doentes com mau resultado visual e determinar possíveis fatores relacionados. Os 45 doentes (65 olhos) incluídos no estudo foram tratados com metilprednisolona intravenosa (1000 mg) ou dose bioequivalente de prednisolona oral (1250 mg) durante 3 a 5 dias, seguido de prednisolona em esquema de desmame. Os casos que não responderam foram tratados adicionalmente com plasmaférese ou imonoglobulinas.
Verificou-se mau resultado funcional em 42.2% dos casos, definido como uma acuidade visual final maior ou igual a 0.4 logMar e MD menor do que -5D na perimetria Humphrey. O atraso no tratamento foi o fator determinantes no mau resultado visual. O tempo médio decorrido entre o início dos sintomas e o tratamento foi 6,65 dias no grupo de doentes com bom resultado e 32,9 dias nos casos com mau resultado. O tratamento com dose bioequivalente oral de corticóide não foi inferior à administração intravenosa. Acuidade visual, defeito campimétrico ou achados neurorradiológicos na avaliação inicial não formam preditivos do resultado final.
Podem ouvir o Dr. Margolin discutir os resultados do estudo no podcast da AAO, disponível em Google Podcasts, Apple Podcasts e Spotify:
https://sites.libsyn.com/399476/predictors-of-poor-visual-outcome-in-mog-related-optic-neuritis
Nádia Lopes
Grupo Português de Órbita e Oculoplástica
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37728602/
Nesta rubrica, gostaria de salientar, a importância das terapias alvo (“Targeted Therapy) e Imunoterapia para o tratamento de pacientes com tumores perioculares localmente irresecáveis ou metastáticos.
A terapia-alvo e imunoterapia têm vindo a ser cada vez mais utilizadas no campo da oncologia. No primeiro caso, é utilizado um agente ou medicamento que tem como alvo uma proteína específica envolvida numa via molecular responsável pelo crescimento de um cancro específico. O segundo caso, baseia-se no sistema imunitário do doente que vai combater a evasão imunológica das células tumorais (por exemplo: anticorpos monoclonais, inibidores “check point” e vacinas).
Este artigo tem como ênfase as atualizações mais recentes na avaliação destas terapias nos tratamentos dos tumores perioculares nomeadamente: carcinoma basocelular, carcinoma espinhocelular, melanoma cutâneo, carcinoma das células de Merckel, carcinoma das glândulas sebáceas, tumor fibroso solitário, dermatofibrosarcoma protuberans, neurofibromatose, linfoma de anexos oculares, meningioma orbitário, histiocitose das células de Langerhans, malformações linfáticas orbitárias e carcinoma adenóide cístico.
Estas terapias demostraram a sua eficácia e estão prestes a tornarem-se uma ferramenta terapêutica importante no tratamento dos tumores perioculares avançados ao permitir uma abordagem mais personalizada, com toxicidade mínima. No entanto, os seus custos e disponibilidade representam as principais limitações.
João Breda
Grupo Português de Investigação
Para esta newsletter optei por trazer duas curiosidades do mundo da Investigação.
Um estudo publicado na JAMA Ophthalmology revela que uma maior diversidade racial e étnica dos membros das equipas de investigação responsáveis pelo recrutamento de doentes aumentava a participação de doentes pertencentes a grupos minoritários1. Este estudo foi realizado com 1380 potenciais participantes em estudos, e mostrou que indivíduos de grupos minoritários e baixo estado socio-económico menos provavelmente aceitaram participar em estudos. Portugal tem visto um crescimento do número de estudos clínicos de elevada complexidade e a Oftalmologia não será estranha a essa realidade. Por isso, é importante ter estes dados em consideração2.
Queria também deixar uma nota sobre a capacidade que já existe de usar impressoras 3D para criar tecido oftálmico, ainda apenas para uso em investigação. Conseguiram usar células estaminais para imprimir tecido com as propriedades da barreira hemato-retiniana externa e assim conseguem ter acesso ilimitado a tecido para estudar doenças como a DMI, entre outras3.
1 – https://jamanetwork.com/journals/jamaophthalmology/article-abstract/2810430
2 – https://ordemdosmedicos.pt/investigacao-clinica-em-portugal-como-estamos-e-para-onde-vamos/
Vanda Nogueira
Grupo Português de Inflamação Ocular
Os síndromes das manchas brancas são desafiantes em termos de diagnóstico e de estratégia terapêutica. O desenvolvimento da imagiologia multimodal tem tido um papel crucial na redescoberta destas coriorretinopatias, como muito bem elucida o artigo que propomos; em conjunto com outros dois recentes trabalhos, são caraterizadas novas e atípicas variantes destes síndromes, bem como as suas formas secundárias, que acompanham outras doenças coriorretinianas.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37574123/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37071923/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37657077/
Teresa Gomes
Grupo Português de Glaucoma
A minha escolha recai, desta vez, em duas aprovações da FDA em 2023 que reforçam a mudança de paradigma no diagnóstico e no tratamento do glaucoma.
Em relação ao diagnóstico, uma plataforma de monitorização remota do campo visual foi registada pela FDA, Peripherex é o nome do produto desenvolvido. A empresa BioLight, responsável pelo desenvolvimento desta tecnologia, refere como vantagens a elevada frequência com que os registos podem ser feitos e a existência de alertas para o médico assistente, quando se verificam perdas de campo periférico.
Esta tecnologia foi desenvolvida pelo professor Jeffrey Goldberg,da Stanford University nos EUA em colaboração com uma companhia Isrealita a UMOOVE, o que nos leva a pensar que no momento atual possam existir constrangimentos na evolução deste projeto. Apesar dessa eventualidade, parece-nos que este caminho da automonitorização será trilhado e muitas inovações se esperam nesta área.
No que refere ao tratamento, em Dezembro de 2023, a Glaukos Corporation recebeu a aprovação da FDA para o iDose TR (implante intracamerular de libertação lenta de travoprost) 75 μg, para a redução da pressão intraocular em doentes com hipertensão ocular ou glaucoma de ângulo aberto.
Dados de dois ensaios principais prospectivos, randomizados, multicêntricos, duplo-cegos, de fase 3 (GC-010 e GC-012) apoiaram esta aprovação.
A Glaukos Corporation espera iniciar o lançamento comercial do iDose TR no final do primeiro trimestre de 2024.
O lançamento de um dispositivo/reservatório angular com um fármaco de libertação lenta, vem na sequência de outros produtos e sistemas que pretendem, entre outros objectivos,contornar o problema da compliance no glaucoma.
Esta fórmula, supostamente posicionada entre os fármacos tópicos e a cirurgia, tendo em conta a necessidade de ida ao bloco, a invasividade dos procedimentos e o potencial de complicações, terá seguramente de provar a sua mais valia em relação a procedimentos menos invasivos, sem necessidade de ida ao bloco e comprovadamente eficazes como o SLT e outras alternativas que em breve surgirão.
https://iovs.arvojournals.org/article.aspx?articleid=2788577
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38345710/
Guilherme Castela
Grupo Português de Patologia Oncológica e Genética Ocular
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17077661/
Este artigo descreve o papel da cimetidina no tratamento da papilomatose conjuntival recidivante. Os papilomas conjuntivais apesar de neoplasias benigas são um desafio terapeutico devido ao seu caracter recidivante. Várias terapêuticas associadas ao tratamento cirurgico foram preconizadas, nomeadamente a crioterapia, o interferon alfa e a mitomicina C, tentando assim reduzir a probabilidade de recorrência.
A cimetidina é um fármaco antagonista do receptor H2 e resulta no aumento da imunidade humoral por inibiçao desses receptores nas células T supressoras, atuando assim como imunomodulador. Tem sido utilizada clinicamente no tratamento de doenças infeciosas e neoplásicas crónicas, incluindo gamaglobulinemia, psoríase, eritema multiforme, herpes zoster, doença de Castleman, infeção por HIV, verrugas recalcitrantes, etc.
A associação dos papilomas com o HPV-6 e -11 faz com que a imunomodulação tenha um papel importante na sua irradicação.
A cimetidina oral pode ser utilizada como terapeutica médica inicial em papilomatoses conjuntivais recidivantes reservando a cirurgia, com ou sem mitomicina C, para um segundo tempo e para remoção da lesão residual.
Apesar das publicações sobre o uso deste imunomodulador serem apenas de casos clínicos isolados a sua eficacia parece ser superior aos tratamentos anteriormente preconizados.
Ana Almeida
Grupo Português de Ergoftalmologia
O pai de um rapaz com baixa visão criou uma aplicação que transforma qualquer texto, com parágrafos, intervalos, numa só linha contínua que pode ser controlada pela mão ou correr de forma automática da direita para a esquerda, permitindo que o utilizador leia textos sem se perder nas mudanças de linha, ter controlo sobre o tamanho da letra, da velocidade de passagem no ecrã, das cores do texto e do fundo.
Esta aplicação é gratuita, está disponível neste link: https://web-app-x-read.web.app
Smartglasses Use ChatGPT To Help The Blind And Visually Impaired | 5G Playbook
Envision Glasses são “smartglasses” que utilizam a inteligência artificial (ChatGPT e hardware da Google) de forma a capturar e converter as informações visuais do meio envolvente do utilizador em informação auditiva.
Diogo Hipólito
SPO Jovem
Em primeiro lugar, selecionámos e convidamos a leitura de todos, mas particularmente dos mais jovens, de um artigo de revisão disponível na edição de março deste ano da revista Retina onde é feita uma sistematização extraordinária dos vários biomarcadores imagiológicos da tomografia de coerência ótica (OCT).
Este é um tema na ordem do dia, e a forma como está organizado neste artigo faz dele uma ferramenta de estudo extremamente útil. São apresentados os biomarcadores e características no OCT de patologias da interface vítreo-retiniana, degenerescência macular relacionada com a idade, uveítes, toxicidades farmacológicas, paquicoroidopatias, doenças vasculares, telangectasias maculares, entre outros.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/379034557
Em segundo lugar, gostaríamos de destacar mais um artigo de revisão, desta vez na área da cirurgia de segmento anterior. No Survery of Ophthalmology, na sua última edição, é-nos apresentada uma revisão sistematizada na abordagem à cirurgia de catarata em doentes previamente submetidos a cirurgia refrativa laser, por forma a obter a sua máxima satisfação. Com o passar dos anos, o número de doentes nestas condições que nos surgem para cirurgia de catarata é crescente e é fundamental conhecer as particularidades e cuidados a ter na avaliação pré-operatória para poder obter um resultado tão bom quanto possível.