Pedro Hispano é um nome de certa relevância na medicina Europeia do século XIII.
Nasceu em Lisboa entre 1210 e 1220,1 a escassez de registos impede uma maior precisão na datação do seu nascimento, filho do médico Julião Rebolo, médico e chanceler do Reino, e de Teresa Gil2. Pedro Julião Rebolo, mais conhecido por Pedro Hispano Portucalense, frequentou os estudos primários na Escola da Catedral Olissiponense, tendo prosseguido os seus estudos de Medicina em França.
O testemunho da Bula Flumen aquae vivae, um registo bastante seguro, indica que Pedro Hispano viveu em Paris durante a juventude tendo-se dedicado ao estudo das várias ciências.
Há autores que referem que a formação médica e teológica de Pedro Julião foi adquirida na Universidade de Montpellier, uma vez que em Paris, não havia ensino de Medicina em data anterior a 1250.3
O conhecimento médico antigo esteve sempre relacionado com as correntes filosófico-religiosas. Em Montpellier e Paris teve a oportunidade de assistir a palestras de dialética, lógica, física e metafísica de Aristóteles.2
Em 1245 obteve o grau de Mestre em Filosofia e Medicina.4 Posteriormente foi para o sul de Itália, à procura de conhecimento de Medicina mais avançada da época ensinada na Sicília e na Universidade de Salerno.2
Da fase adulta da sua vida existe maior informação. Alguns documentos do século XIII dão conta da existência de um tal “Mestre Pedro médico, chamado Hispano”, professor na Universidade de Siena em Itália, posteriormente Pedro Hispano foi arcediago de Vermoim, deão da Sé de Lisboa e em 1272 nomeado arcebispo eleito de Braga, e no ano seguinte foi elevado a cardeal-bispo de Túsculo e logo após exerceu a função de médico na cúria papal de Gregório X (1271-1276). Sucedeu a Adriano V no sólio pontifício e teve o nome ligado à questão das condenações por Etiènne Tempier, bispo de Paris de doutrinas ensinadas na universidade Parisiense, na qual interveio de forma prudente.1
Pedro Hispano foi depois eleito Papa (João XXI) a 20 de setembro de 1276 tendo exercido o magistério até à data da sua morte em Viterbo a 20 de maio de 1277, tendo uma morte trágica, aquando do desabamento de uma das alas do palácio de Viterbo.
Segundo Pedro Julião, a Medicina assentava em 2 colunas: “ratio et experimentum”. Estes eram os atributos básicos do conhecimento difundido pelas obras da sua autoria que obtiveram grande impacto pelas terapêuticas preconizadas, expostas de maneira clara e simples.4 Passava pela filosofia natural, teologia e medicina, numa ampla combinação de conhecimentos, não percetível em outro intelectual do século XIII e que parece ter sido o motivo da homenagem de Dante no Conto 12 do Paraíso da Divina Comédia, no qual se pode encontrar Pedro Hispano ao lado de São Domingos e de São Tomé de Aquino. Dos textos filosóficos o mais conhecido é o Tractatus, ou Summular Logicales, manual de lógica utilizada nos séculos XIII e XIV em diversas universidades europeias.
Estão ligados ao seu nome mais de 50 textos, alguns de controversa autoria.5
Entre as obras médicas, são-lhe atribuídas 2 tratados Médicos de Liber de morbis ocularum e Thesaurus pauperum.
O Theasaurus pauperum6,7 utiliza já nesta época a observação semiológica das doenças, a relação causa-efeito e a comparação sistemática, percursoras do método científico atual.
Diversos comentários médicos: Liber de conservanda sanitate, De diaetis universalibus, De dietis particularibus, De urinis, Tratatus de febribus.
O Liber de Conservanda Sanitate e o De Regimine Sanitatis per omnes menses são regimentos de saúde, estes possuíam a intensão de orientar a prevenção da doença ao passo que os comentários tinham compilações de receitas contra enfermidades.
No Liber de Conservanda Sanitate dirigido para a medicina preventiva, Pedro Hispano destaca essa intensão: “Considerando eu, Pedro Hispano, que os diversos padecimentos mórbidos se originam no corpo por negligência, encontrei e provei com razão verdadeiras algumas observações uteis e experimentados para conservar a saúde da vida humana, as quais se não encontram no seio da Medicina. Uma vez que é melhor preservar a saúde do que lutar com a doença, deve tratar-se da dita saúde.”LCS p. 446
O Liber de óculo foi um tratado de oftalmologia muito difundido na época nas mais famosas universidades europeias. Miguel Ângelo, tendo adoecido gravemente dos olhos, após o trabalho de pintura da Capela Sistina, encontrou alívio para o seu mal na receita de um colírio de Pedro Julião, denominado aquae mirabilis3.
Os textos como Thesaurus pauperum e o Liber Conservanda Sanitate, tinham o propósito de disponibilizar saberes práticos a estudantes pobres ou a praticantes de medicina sem formação universitária, constituindo textos cuja função era mais ou menos análoga aos manuais científicos do nosso tempo.
O Thesaurus é um dos manuais medievais da Medicina dos mais influentes e representativos contém uma espécie de compilação condensada de “remédios fáceis e eficazes para quase todas as enfermidades”.
REFERÊNCIAS
Walter Rodrigues