What’s New – Outubro 2024

Carlos Neves
Grupo Português de Retina e Vítreo

Gene and cell therapy for age-related macular degeneration: A review

Age-related macular degeneration (AMD) is reviewed, with an emphasis on novel gene and cell therapies. It talks on how to treat late-stage AMD and covers developments in gene therapy vectors, cell transplantation, and anti-VEGF drugs. These methods hold potential for improving patient outcomes and delaying the course of disease.

https://doi.org/10.1016/j.survophthal.2024.05.002

Full-Thickness Macular Hole Closure With Topical Medical Therapy

In a retrospective investigation, Wang et al. found that topical drops were safe and effective for closing full-thickness macular holes (FTMHs), and that they worked especially well for smaller holes that did not require vitreomacular traction (VMT). Though the results might not differ considerably from spontaneous closure rates, they discovered a 71% closure rate in post-vitrectomy cases and 31% closure rate in idiopathic instances. To elucidate these results, the authors propose bigger sample sizes and additional controlled investigations.

Retina 44(3):p 392-399, March 2024.

 


Ricardo Parreira
Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo

Destaco este artigo do American Journal of Ophthalmology, que analisou os efeitos de uma lente de desfoque periférico com design não concêntrico, na progressão da miopia em crianças de Israel ao longo de 12 meses. Os resultados mostraram uma redução da progressão do comprimento axial e equivalente esférico sobretudo em crianças com menos de 10 anos e crianças com os dois pais míopes. De salientar que o grupo controlo deste estudo tem uma taxa de progressão anual de miopia significativamente menor quando comparada com a população asiática. Aguardamos pelos resultados aos 2 anos.

https://www.ajo.com/article/S0002-9394(23)00351-3/pdf

Neste artigo o autor faz uma revisão bibliográfica às causas da Endotropia Concomitante Aguda, usando bases de dados relevantes (PubMed, MED- LINE, EMBASE, BioMed Central, Cochrane Library, Web of Science). De salientar que os fatores etiológicos funcionais têm aumentado recentemente, associados com o uso de smartphones e outros dispositivos digitais para trabalho de perto. Este aumento foi também observado durante a pandemia de COVID-19.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmid/37145335/

 


Nuno Alves
Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia

João Feijão
Grupo Português de Cirurgia Implanto-Refrativa

As queratites fúngicas constituem um grande desafio diagnóstico e terapêutico.Trata-se de uma patologia que atinge mais de um milhão de doentes por ano, com forte ameaça para a visão e para a própria integridade do globo ocular. Este é um excelente artigo de revisão sobre estratégias diagnósticas e terapêuticas de uma patologia que encerra tantos desafios.

https://journals.lww.com/corneajrnl/toc/2024/09000

 


Lígia Ribeiro
Grupo Português de Neuroftalmologia

Nesta newsletter, sugiro a edição de Julho da revista Eye , inteiramente dedicada a neuroftalmologia. Susan Mollan e Clare Fraser reuniram um conjunto de artigos de opinião sobre temas chave nesta área.

Este Update in Neuro-Ophthalmology é composto por artigos com informação prática sobre investigação, diagnóstico e tratamento de patologias frequentes como nevrite ótica e hipertensão intracraniana idiopática e artigos de revisão sobre patologia pituitária, neuropatia ótica isquémica não arterítica e neuropatia ótica traumática. É feita uma abordagem geral dos agentes mais comuns das neuropatias óticas infeciosas e dois artigos incidem sobre o herpes zoster ophthalmicus e a sífilis. Os critérios diagnósticos e a base biológica da síndrome da neve visual são também caracterizados e é feita uma abordagem da perda visual funcional. O papel de suporte da neuroimagem, do OCT e dos testes eletrofisiológicos no diagnóstico e seguimento dos doentes é destacado em três artigos e são apresentadas as aplicações para smartphone que estão validadas para uso clínico. A arterite de células gigantes na visão do reumatologista e os novos alvos terapêuticos na miastenia gravis são dois temas que relembram a importância na colaboração multidisciplinar. Trata-se de uma compilação de artigos muito interessante e de grande utilidade na nossa prática clínica, que demostra o dinamismo a que temos vindo a assistir na patologia neuroftalmológica.

https://www.nature.com/collections/eeifggbghf

 

 


Nádia Lopes
Grupo Português de Órbita e Oculoplástica

É amplamente reconhecida a eficácia do transplante de membrana amniótica nas doenças da superfície ocular. Nesta newsletter, gostaria de salientar a sua utilização na área de oculoplástica, nomeadamente, na reconstrução de lamela posterior, fundo-saco-conjuntival e cavidade anoftálmica.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38427832/

 


João Breda
Grupo Português de Investigação

Um grande número de associações já foram feitas com o risco de ter glaucoma. Muitas foram depois confirmadas, enquanto outras ficaram pelo caminho ou vivem ainda em controvérsia. Partilho nesta newsletter dois estudos de coorte que encontraram factores de risco menos comuns para o desenvolvimento de glaucoma de novo durante o follow up (incidência).

Um deles (link 1) usou dados do UK BioBank e revelou um maior risco de glaucoma em quem tem isolamento social ou sente solidão. Neste âmbito, realço esta revisão sistemática e meta-análise da Nature (link 2) que mostra como o isolamento social e solidão estão também associados com maior risco de mortalidade all-cause e associada a cancro.

A segunda associação que queria realçar é com a dieta. Outro estudo de coorte (link 3) revelou um maior risco de glaucoma em quem consumiu mais comidas ultra-processadas, sobretudo doces.

Concluindo, veremos no futuro se se confirmam estas associações com o risco de glaucoma, mas é já seguro que socializar dá vida! Aproveitem!

link 1: https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12889-024-19649-6

link 2: https://www.nature.com/articles/s41562-023-01611-y

link 3: https://www.mdpi.com/2072-6643/16/7/1053

 

 


Vanda Nogueira
Grupo Português de Inflamação Ocular

Nos últimos anos, os inibidores da janus cinase (inibidores da JAK) têm sido usados no tratamento de doentes com uveíte não infecciosa (UNI) refratária aos fármacos biológicos. A sua eficácia no controlo de doenças inflamatórias imuno-mediadas é reconhecida, existindo já alguma evidência a sugerir superioridade em relação ao adalimumab. Têm também a vantagem de serem fármacos de administração oral. O perfil de efeitos secundários não está ainda bem esclarecido, tornando a sua posição definitiva no algoritmo terapêutico das UNIs ainda dúbia. No entanto, esta nova geração de fármacos é já uma arma terapêutica a equacionar em uveítes graves refratárias aos fármacos biológicos. Recentemente, no EURETINA 2024 foram apresentados os resultados parciais do estudo de fase 2 NEPTUNE (Brepocitinib). São bastante promissores e suportaram mesmo o avanço para o estudo de fase 3 com o mesmo fármaco (CLARITY), em fase de recrutamento. Enquanto aguardamos pelos resultados, sugiro a leitura de 2 estudos publicados nos últimos meses, um com base no registro AIDA e que analisa prospetivamente vários inibidores das JAK nas UNIs (1), e outro com os resultados do estudo randomizado de fase 2 HUMBOLDT (filgotinib em UNI) (2).

  1. https://www.frontiersin.org/journals/medicine/articles/10.3389/fmed.2024.1439338/full
  1. https://europepmc.org/article/pmc/pmc8142453

 


Teresa Gomes
Grupo Português de Glaucoma

Trago um artigo de revisão publicado na Curr Opin Ophthalmol. de março passado sobre IA.

Neste artigo  é apresentado o state-of-the-art do uso desta ferramenta no glaucoma. É feita ainda uma reflexão sobre os desafios que a implementação da IA no diagnóstico e na avaliação da progressão da doença irá trazer, e apontadas  estratégias para a resolução destes problemas. O grupo do Prof. Luís Abegão Pinto, cujo trabalho pioneiro no  uso da IA no rastreio do glaucoma tem sido reconhecido pela comunidade científica internacional, tem a autoria deste texto.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38018807/

O segundo artigo selecionado foi publicado na Ophthalmology de julho passado. Apesar de todo o esforço para diagnosticar precocemente o glaucoma, a verdade é que continuamos a ter doentes que chegam com situações muito graves ou mesmo terminais às nossas consultas. A margem de erro nestes casos é mínima pois  a função visual residual é muito limitada. Toda a evidência que ajude a tomar a decisão mais acertada, no sentido de prolongar uma boa Qol a estes doentes é de elevada importância. O estudo agora publicado, decorreu no Reino Unido, por um período de cinco anos, em 27 hospitais, comparou a terapêutica médica à terapêutica cirúrgica como primeira abordagem neste grupo de doentes. Os resultados apontam para uma vantagem da terapêutica cirúrgica inicial essencialmente no que refere ao controlo da progressão da doença.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38199528/

 

 


Guilherme Castela
Grupo Português de Patologia Oncológica e Genética Ocular

O carcinoma basocelular é o tumor mais comum da área periocular. Tem um crescimento lento, mas a sua extensão local pode causar grande destruição palpebral e orbitaria. Estes tumores localmente invasivos são desafiantes do ponto de vista cirurgico envolvendo grandes reconstruções associadas a grande morbilidade. Muitas vezes a exenteração é necessária complementada com radioterapia para garantir a excisão completa destes tumores.

A maioria destes tumores esporádicos estão associadas a mutações na via sonic hedgehog. O Vismodegib é o primeiro inibidor seletivo hedgehog aprovado para o tratamento do carcinoma basocelular avançado e metastizado.

Este artigo descreve os resultados do tratamento com Vismodegib no carcinoma basocecular avançado na área periocular através da revisão de 11 artigos publicados na literatura entre 2012 e 2022.

Esta revisão da literatura confirma a eficácia deste tratamento médico com altas taxas de preservação orbitaria, reduzindo a necessidade de exenteração para 6%. Apesar disso são descritos alguns efeitos secundários com necessidade de descontinuação terapêutica numa pequena percentagem de doentes. O seu uso com neoadjuvante antes do tratamento cirúrgico também parece ser promissor em casos muito agressivos.

Está comprovado que o Vimodegib é uma terapêutica eficaz, mas ainda existem algumas dúvidas na sua aplicação nomeadamente, a duração do tratamento para prevenção de recidivas.

https://journals.lww.com/op-rs/toc/2024/01000

 


Ana Almeida
Grupo Português de Ergoftalmologia

Nesta newsletter escolhemos dois artigos de grande valor de autores portugueses publicados em revistas internacionais indexadas:

Neste artigo de Pedro Lima Ramos et al., os autores procuraram estimar a prevalência bem como as causas de baixa visão no noroeste de Portugal. A prevalência bruta de deficiência visual foi de 1,97% (IC 95% 1,56% a 2,54%), valor que se encontra dentro do esperado e em linha com outros países europeus. Mulheres e idosos parecem ser mais afectados e por isso requerem maior atenção. As cinco principais causas de deficiência visual encontradas foram a retinopatia diabética, a catarata, a degeneração macular relacionada com a idade, o glaucoma e patologias do globo ocular.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36691224/

Neste estudo de Ana Marta et al. os autores avaliaram as características socioeconómicas das regiões em Portugal onde residem os pacientes com doenças hereditárias da retina (DHR), de forma a melhor planear estratégias de apoio e reabilitação. Este estudo envolveu 1082 pacientes de 973 famílias e revelou uma prevalência estimada de 10,4 por 100.000 habitantes. As regiões com maior prevalência de DHR tendem a ter menor densidade populacional, maior taxa de analfabetismo, população mais envelhecida, menor proporção de médicos per capita, e pior qualidade de vida em alguns aspetos socioeconómicos. Estas disparidades indicam a necessidade de estratégias de apoio direcionadas para garantir que todos os pacientes com DHR recebam o suporte clínico e socioeconómico adequado.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38594754/


Diogo Hipólito
SPO Jovem

Para esta newsletter decidimos selecionar duas publicações que do ponto de vista didático, particularmente para internos e jovens especialistas, nos parecem de importância e utilidade particular

Primeiramente, aconselhamos a todos a leitura das recentemente publicadas Guidelines em Cirurgia de Catarata da European Society of Cataract and Refractive Surgeons (ESCRS). Desde sempre que a ESCRS sempre se preocupou em sistematizar e divulgar normas orientadoras baseadas na evidência nas mais diversas áreas da cirurgia refrativa e catarata. Nestas guidelines extremamente completas encontramos desde a definição da patologia, passando pela atualizada classificação das lentes intraoculares, cálculo da potência da lente, cuidados pré-operatórios, intra-operatórios e pós-operatórios, e também as potenciais complicações do procedimento cirúrgico. Esta é ainda uma versão preliminar uma vez que serão aceites comentários e sugestões dos sócios para a sua melhoria até ao dia 31 de outubro de 2024.

https://www.escrs.org/media/s24lgm5e/draft-version-cataract-guidelines_extended-document_05-07-2024.pdf

Em segundo lugar, gostaríamos de destacar uma tese publicada no número deste mês de outubro do American Journal of Ophthalmology com uma abordagem diagnóstica também ela baseada na evidência em doentes com síndromes inflamatórios orbitários. Este trata-se de um grupo de doenças heterogéneo, que partilha muitos achados radiográficos e clínicos. Este estudo pretende exatamente encontrar um racional para a avaliação diagnóstica perante estes casos, apresentando-nos no final um flowchart muito útil para a prática clínica.

https://www.ajo.com/article/S0002-9394(24)00210-1/fulltext