Novembro 25, 2021
As queixas visuais são muitas vezes os primeiros sintomas de esclerose múltipla, e a oftalmologista Marta Macedo explica esta relação:
É, como sabe, uma doença crónica do sistema nervoso central com uma grande prevalência. Atinge mais 830 mil portugueses, é a principal causa de incapacidade neurológica não traumática num adulto jovem e, efetivamente, 80% destes doentes têm alterações visuais no decurso da sua vida.
Há dois grandes grupos de queixas relacionadas com a visão, com os movimentos oculares. A mais frequente é aquela que é efetivamente a primeira manifestação de esclerose múltipla – com 1 em cada 4 doentes é a nevrite ótica, que é a infamação do nervo que liga o olho ao cérebro. O doente refere uma diminuição da visão de um olho em uma a duas semanas, acompanhada ou perseguida de dor ocular ou até atrás do olho e que agrava novamente com os movimentos oculares. Também pode ver pontos luminosos ou uma mancha no centro do campo visual, ou aperceber-se também de alteração da visão de cores. Parece que as cores estão desbotadas, diz normalmente o doente. Ele pode aperceber-se de episódios em que a sua visão diminui ou turva quando aumenta a temperatura corporal, como por exemplo na prática de exercício físico, no banho ou quando surge febre.
Os movimentos oculares também podem sofrer alterações. E aqui, quando os olhos não estão coordenados, surgem duas imagens, a diplopia. O doente vê dois computadores ou duas linhas na estrada, mas também não é obrigatório ser em frente. Pode notar, por exemplo, ao estacionar, duas esquinas ou duas árvores ou, até ao ler, ver duas linhas.
Também podem surgir movimentos involuntários rápidos dos olhos, nistagmo. Normalmente, este é percecionado por outra pessoa, na maioria das vezes o oftalmologista, mas o doente pode aperceber-se porque, de repente, parece que há movimento dos objetos, andam para trás e para a frente ou até rodam.
Posto isto tudo, fica apenas o alerta destas várias e frequentes alterações visuais no doente com esclerose múltipla. Mas também deixo a certeza: o diagnóstico e o tratamento atempado proporcionam uma excelente recuperação e uma diminuição do número de complicações ao longo da vida.
No programa de amanhã falamos sobre tumores nas pálpebras.
Com o apoio da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.